sexta-feira, 1 de junho de 2012

Memorial do Convento

Categorias do texto narrativo

Ação
            O rei D. João V, Baltasar e Blimunda e Bartolomeu Lourenço protagonizam as diversas ações que se entretecem em Memorial do Convento.
            A ação principal é a construção do convento de Mafra. Esta ação resulta da reinvenção da História pela ficção. Situando-se no início do seculo XVIII, encontra-se um entrelaçamento de dados históricos, como o da promessa de D. João V de construir o convento de Mafra, e o do sofrimento do povo que nele trabalhou. Conhece-se a situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola voadora pelo padre Bartolomeu de Gusmão, as críticas ao comportamento do clero, os casamentos da infanta Maria Barbar e do príncipe D. José.
            Paralelamente à ação principal, encontra-se uma ação que envolve Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete Luas. São estas personagens que estabelecem, muitas vezes, o fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmento de espiritualidade, de ternura, misticismo e de magia.
            A centralidade conferida às obras do convento e os espaços sociais de Lisboa ou Mafra dão frequentemente lugar a uma intriga de profunda humanidade trágica. As duas ações voluntariamente surgem em fragmentos que se reconstituem por encaixes vários e recriam situações, costumes, tradições, ambientes e problemas.


Convento de Mafra
Espaço:

Espaço Físico:

É o espaço real, onde os acontecimentos ocorrem, confere verosimilhança à história narrada. O cenário da obra tem dois macro-espaços:

Lisboa, cujos micro-espaços são:
Terreiro do Paço - local onde se situava o palácio do rei, é o centro do poder;
Rossio - é o centro urbano onde tem lugar as festividades como os autos-de-fé, as procissões e as touradas;
Abegoaria - na Quinta do Duque de Aveiro, em S.Sebastião da Pedreira, é o local onde a passarola é construída.

Mafra, cujos micro-espaços são:
Vila de Mafra - é uma pequena população que sobrevive pela agricultura e que vive isolada da civilização até o rei escolher Mafra como local da construção do convento;
Alto da Vela - é o local da construção do convento;
Ilha da Madeira - é um aglomerado de barracões de madeira onde se localiza os alojamentos dos operários que trabalham na construção

- Espaço Social: 

É relatado através de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o. O ponto de vista sociológico em que o narrador se coloca permite-lhe apresentar um quadro claro da vida social do século XVIII.
- A vida na corte, com a apresentação do séquito real, do vestuário das personagens, das vénias protocolares, do ritual das relações entre o rei e a rainha e todos aqueles que frequentam o paço, sobretudo o clero (Cap. I);
- Diversas procissões, nomeadamente, a de penitência pela altura da Quaresma (Cap. III), a dos autos-de-fé (Cap. V e XXV); a do Corpo de Deus em Junho (Cap. XIII); que atestam a influência da religião na sociedade;
- O batizado da princesa Maria Bárbara no dia da Nossa Senhora do Ó (VII);
- A tourada em Lisboa, no Terreiro do Paço (IX);
- Os festejos da inauguração e da bênção da primeira pedra do convento de Mafra (XII);
- As lições de música da infanta Maria Bárbara ministradas por Domenico Scarlatti (XVI);
- A epidemia de cólera e febre-amarela que dizima o povo (XV);
- O cortejo nupcial que retrata os casamentos da infanta Maria Bárbara e do príncipe D. José com o príncipe e infanta espanhóis (XXII);
 - Sagração, em 1730, do convento de Mafra, apesar de ainda não concluídas as obras (XXIV) …

 - Espaço Psicológico:
         Este espaço é entendido através do monólogo interior em que as personagens revelam o seu íntimo ou representado através do sonho/imaginação da evocação, da memória e da emoção, podendo, também, ser sugerido através da descrição de atmosferas ilustrativas do pensamento predominante de uma época.
         Ora, em Memorial do Convento, a vida da sociedade do século XVIII pauta-se por uma religiosidade fanática e opressiva que dita as regras do comportamento social. É exemplo deste espaço psicológico quando Baltasar relembra o momento em que perdeu a sua mão esquerda na guerra.

Tempo
 O tempo narrativo resulta da articulação do tempo da história e do tempo do discurso.
Relativamente ao  tempo da história, sucessão cronológica de acontecimentos, contatamos que a ação decorre durante o reinado de D. João V, tendo início no ano de 1711. O monarca encontrava-se casado com D. Maria Ana Josefa, que chegara da Áustria “há mais de dois anos”. Por outro lado, D. João V, nascido em 1689, teria nessa altura vinte e dois anos.
Ao longo do romance, encontramos inúmeras referências temporais que os dão conta da passagem do tempo: “há seis anos que vivem como marido e mulher…”; “Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi lançada a primeira pedra da basílica, essa de Pero Pinheiro…”.
O narrador faz a disposição do tempo da história através de uma organização própria, o tempo de discurso, onde têm lugar as analepses (“Não tem ninguém em Lisboa, e em Mafra, donde partiu anos atrás para assentar praça na infantaria de sua majestade”) e inúmeras prolepses, que denotam claramente a focalização omnisciente do narrador: “é o caso da rainha, devota parideira, que veio ao mundo só para isso, ao todo dará seis filhos…”. 

Estrutura

A estrutura de um romance assenta na coexistência de vários conflitos que se enredam e através do texto manifestam ou desocultam a realidade e os problemas do ser humano. 
Em Memorial do Convento observa-se uma reinvenção da História, de atos e de comportamentos para despertar os leitores para situações reais perturbantes que devem ser analisadas. Pela ficção e com a sua palavra reveladora e denunciadora, José Saramago propõe o repensar da História portuguesa à luz das mentalidades atuais e possibilita a consciencialização sobre a verdade do homem. Assim, consegue a missão do escritor que, numa realização estética, fornece uma mensagem ética.
A estrutura de Memorial do Convento apresenta duas linhas condutoras da ação - a construção do convento de Mafra e relações entre Baltasar e Blimunda - que se entrelaçam como acontecimentos diversos recolhidos na História ou fantasiados.
Memorial do Convento está dividido em 25 partes, ou capítulos, não nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecidas pelos espaços em branco que as separam. 

Dimensão simbólica/histórica

Memorial do Convento é uma obra onde podemos encontrar uma enormidade de elementos simbólicos. Para além de objetos, as personagens, os números, os espaços, parece que tudo tem um valor simbólico importantíssimo. Aqui ficam presentes os símbolos e respetivo valor a não esquecer:
Convento de Mafra - representa a ostentação régia e o místico religioso. Mas também testemunha a dureza a que o povo está sujeito, a miséria em que vive, a exploração a que é sujeito apesar da riqueza do país. 
Passarola voadora - simboliza a harmonia entre o sonho e a sua realização, o desejo de liberdade. Permitiu a união entre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e Blimunda, que juntaram a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a música para construir e fazer voar a passarola. Símbolo de fraternidade e igualdade capaz de unir os homens cultos e os populares. 
Blimunda - representa um elemento mágico difícil de explicar: possui poderes sobrenaturais que lhe permite compreender a vida, a morte, o pecado e o amor. Através de Blimunda o narrador tenta entrar dentro da história da época e denunciar a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as perseguições i injustiças da inquisição, a miséria e diferenças sociais. 
Número “sete” - é o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na Terra. Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação. 
Baltasar Sete-Sóis / Blimunda Sete-Luas - o sol símbolo de vida, associa-se ao povo que trabalha incessantemente, como o próprio Baltasar, apesar de decepado. a lua não tem luz própria, depende do sol, tal como Blimunda depende de Baltasar. A lua atravessa fases, o que representa a periodicidade e a renovação. 
Cobertor - símbolo de afastamento, da separação que marca o casamento de convivência entre o rei e a rainha. Liga-se à frieza do amor, à ausência do prazer, esconde desejos insatisfeitos. 
Colher - símbolo de aliança, da “união de facto”, de compromisso sagrado. Exprime o amor autêntico numa relação de paixão, a atração erótica de um casal que desenvolve uma calorosa paixão.

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Linguagem e Estilo

            Importa refletir sobre a especificidade do estilo saramaguiano, que já fez escola, e nos dá a perceber algumas ruturas com a norma linguística, sobretudo ao nível da pontuação, da separação de falas e de discursos e da utilização da maiúscula no meio da frase.
            Estes aspetos ultrapassam o seu pendor exclusivamente gráfico e repercutem- se na própria teia, tecida pelo narrador, onde não se destrinçam sem algumas dificuldades as origens e a pertença de vozes da narrativa manobradas e interrompidas, qui e acolá, com este ou aquele comentário ou aparte, a seu bel-prazer.

·         O narrador conta a história reproduzindo as falas das personagens, num discurso próximo da oralidade, como se estivesse junto a nós;
·         Não se verifica a mudança de linha no discurso direto;
·         não há recurso a sinais gráficos (dois pontos, travessão, aspas e itálicos);
·         A construção da pausa efetua-se através do uso da vírgula e da letra maiúscula;
·         As frases e a ausência de pontuação favorecem a pluralidade de vozes;
·         Uma só frase é já um diálogo, ou fragmento de dialogo, onde cabem o acordo e o desacordo;
·      Dá à linguagem um de cronica histórica, quer no género quer no sentido de quem conversa, com recurso à voz do autor, à ironia, à referencia filosófica;
·         A sua linguagem flutua entre a riqueza dos termos, jogos conceituais e duplicidades sintáticas, que se combinam com discursos simples de oralidade, cheios de expressões triviais, frases idiomáticas/provérbios, ditados, humor e ironia.


Visão Crítica


Tendo como pretexto a construção do convento de Mafra, Saramago, adotando a perspetiva de um narrador distanciado do tempo da diegese, apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. É neste sentido que Memorial do Convento transpõe a classificação de romance histórico, uma vez que não se trata de uma mera reconstituição de um acontecimento histórico, mas é antes um testemunho intemporal e universal do sofrimento de um povo sujeito à tirania de uma sociedade em que só a vontade de El-Rei prevalece.
            Logo desde o início do romance é visível o tom irónico e, até mesmo, sarcástico do narrador relativamente à hipotética esterilidade da rainha e às infidelidades do rei. Esta atitude irónica do narrador mantém-se ao longo da obra, denunciando o comportamento leviano do rei, a sua vaidade desmedida e as promessas megalómanas de que resulta o sofrimento extremo dos homens. O clero, que exerce o seu poder sobre o povo ignorante através da instauração de um regime repressivo e que constantemente quebra o voto de castidade, também não escapa ao olhar crítico do narrador. A atuação da Inquisição é de igual modo criticada ao longo do romance, nomeadamente, através da apresentação de diversos autos-de-fé e uma crítica às pessoas que dançam em volta das fogueiras onde se queimaram os condenados.
            Assim, são sobretudo as personagens de estatuto social privilegiado o alvo da crítica do narrador que denuncia as injustiças sociais, a omnipotência dos poderosos e a exploração do povo – evidenciada nas miseráveis condições de trabalho dos operários do convento de Mafra; ao mesmo tempo que denota empatia face aos mais desfavorecidos, cujo esforço elogia e enaltece.

Construção da Passarola                


            O sonho do Padre Bartolomeu de Gusmão concretiza-se na construção da passarola. Esta narrativa encaixada alterna irregularmente com a primeira, apresentando-se em sequências diferentes.
            Na construção da passarola, na quinta de S. Sebastião da Pedreira, intervêm, além de Frei Bartolomeu, Baltasar e Blimunda, mulher cujo poder especial de vidência permitirá encher as esferas com as vontades que recolherá entre os humanos e inspecionar os matérias. O primeiro voo da passarola é agitado, poi o Padre Bartolomeu, Perseguido pela Inquisição, apressa essa viagem extraordinária.

Passarola


Personagens




Relações Amorosas






 




Um comentário:

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