domingo, 20 de novembro de 2011

Ricardo Reis - Características

Ricardo Reis manifesta-se como um ser que procura o equilíbrio, que só a força moderadora da razão lhe pode proporcionar.

Com efeito, Reis é um epicurista triste e ressentido que se sente atormentado com a fugacidade do tempo, a efemeridade da vida, a inevitabilidade da morte, a dureza do Fado e o desprezo dos Deuses, considerando que estes aspetos jamais deixam o ser humano ser feliz, pois aprisionam-lhe a liberdade. Partindo desta ideia, Reis recusa viver a sua vida, enclausurado no passado ou concentrado num futuro incerto que poderá não chegar, mas sim procurando a realização no presente e no instante vivido dia a dia, segundo as ideias do Carpe Diem. Assim, procura alcançar a serenidade espiritual e a ataraxia (ausência de dor e sofrimento), construindo uma filosofia de vida estoico-epicurista, na busca do equilíbrio entre o pensar (estoicismo) e o sentir (epicurismo), para assim alcançar uma felicidade relativa que não lhe comprometa a liberdade interior e o moderado gozo dos prazeres.

É, assim, uma arte de viver, pois ao conciliar as duas filosofias de vida, vive essa vida aceitando passiva e voluntariamente as leis do destino, inacessíveis à consciência do ortónimo.

Linhas de sentido:

·       Discípulo de Caeiro, como o mestre aconselha a aceitação calma da ordem das coisas e faz elogio da vida campestre, indiferente ao social;

·       Faz dos Gregos o modelo da sabedoria (aceitação do fatalismo do Destino de forma resignada, mas digna e altiva) e do poeta latino Horácio o modelo poético;

·        Reflete sobre fluir do tempo; tem consciência da dor provocada pela natureza precária do homem;

·         Faz elogio do epicurismo: a sabedoria consiste em gozar o presente (Carpe Diem);

·        Faz elogio do estoicismo: a sabedoria consiste na aceitação da condição humana, através da disciplina e da razão;

·        Paganismo assumido.

Estilo

·         Estilo neoclássico;

·         Presença frequente de elementos mitológicos;

·         Uso preferencial do decassílabo combinado com o hexassílabo; verso branco;

·         Linguagem curta, rebuscada, sentenciosa;

·         Frequente utilização do hipérbato e de latinismos;

·         Recurso ao conjuntivo com valor exortativo.








quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ricardo Reis - Estoicismo e Epicurismo

O Epicurismo e o Estoicismo têm como característica comum garantir ao Homem o bem supremo, a serenidade, a paz, a tranquilidade.

Estoicismo:

·       Considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo.

·        O Estoicismo era um sistema monístico, tratando o Universo como uma entidade única, em que Zeus ou o fogo ou a razão criadora se assumia como um aspeto desse mesmo Universo;

·         O Universo funciona de uma forma cíclica, tanto no crescimento como na sua queda;

·         O sábio devia conformar-se com a Natureza e não lutar contra ela;

·        Apologia da indiferença face aos bens materiais e defesa do seguimento das virtudes: discernimento, coragem, justiça e autodomínio;

·         O autodomínio permite a aceitação das ações do cosmo, do fatum e da morte inexorável;

·        Defesa da fundação de uma comunidade humana ou cosmopolis e na igualdade de oportunidade para todos os seres humanos – universalismo;

·        O verdadeiro estoico deveria auxiliar os outros e ignorar diferenças de raça, condições de nascimento, etc.

Epicurismo:

·         Filosofia moral de Epicuro (341-270 a.C.), defendia o prazer como caminho da felicidade;

·         Este movimento baseia-se na teoria atómica;

·        Para Epicuro, por detrás dos sentidos-impressões estão os átomos, que formam todas as coisas, inclusivamente os deuses;

·        O ser humano deve procurar a ausência de dor e sofrimento e aceitar a morte (reconhecida apenas como sendo a fronteira da vida), sem receio;

·        Apologia da procura do prazer moderado, da calma, da ataraxia, do Carpe Diem ( "aproveita o dia”) horaciano;

·         As religiões não deveriam fomentar o medo da morte.



Epicuro

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Alberto Caeiro - Características

Alberto Caeiro apresenta-se como um simples “guardador de rebanhos”, que só se importa de ver de forma objetiva e natural a realidade, com a qual contacta todo o momento.

Para Caeiro, “pensar” é estar doente dos olhos. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensa vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não compreender”. Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar que afeta Pessoa.

Caeiro é o poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é a ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo.

Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao ato de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo.

É um sensacionista a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à perceção da cor, da forma e da existência: a intelectualidade do seu olhar volta-se para a contemplação dos objetos originais.

Vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”.


É um sensacionista objetivo: rege a vida e interpreta o real pelos sentidos;
É um antimetafisico: recusa/rejeita o pensamento (“Pensar é estar doente dos olhos”; “Pensar é não compreender”);
Aceita progressivamente tudo o que existe (“ O mundo não se fez para pensarmos nele mas para olharmos para ele e estarmos de acordo”);
Poeta da Natureza: Vive em comunhão absoluta com a Natureza;
Poeta do olhar: valoriza a visão;
Poeta que deambula pelo campo;
Poeta da realidade imediata: só é real o que é possível proporcionar pelos sentidos;
É um panteísta (“ Não acredito em Deus, porque nunca o vi”; “ Mas se Deus é as flores, os montes, o sol, o luar então acredito nele”): Deus é a Natureza divina e eterno;
Lírico, instintivo, ingénuo, inculto (em relação à sabedoria escolar).




Linhas de sentido:


-É o Mestre que Pessoa opõe a si mesmo, com o qual tem que aprender:


       · A viver sem dor;


       · A envelhecer sem angústia; a morrer sem desespero;


       · A não procurar sentido para a vida;


       · A sentir sem pensar;


       · A ser não fragmentado.





Estilo


     · Estilo discursivo;


     · Pendor argumentativo;


     · Uso frequente de metáforas e comparações;


     · Simplicidade da linguagem;


     · Liberdade estrófica e do verso, ausência de rima.





quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Importância da Literatura - Texto de Reflexão

Certo é que a literatura tem um papel muito importante, nomeadamente na formação do Homem, tanto ao nível social como intelectual. Quando lemos, estamos, de uma certa forma, a consciencializarmo-nos sobre o que somos, examinando o mundo em que vivemos com outros olhos, transformando-o num mundo cujos horizontes são mais vastos.

A literatura faz-nos mergulhar em mundos diferentes, de outras pessoas cujas vivências e sentimentos podem diferir dos nossos, em contextos diferentes e até mesmo em épocas, culturas e lugares diferentes. Tudo isto faz com que nos afastemos da rotina do nosso quotidiano.

Por outro lado, as narrativas permitem-nos identificarmo-nos com as personagens e as suas estórias. Esta constatação pode servir como força impulsionadora para o autoconhecimento e uma forma de encorajamento, pois apercebemo-nos de que a nossa situação não é única, apenas poderá mudar a forma como cada um de nós a sente e vive.

Por último, a literatura constitui uma forma de libertação, uma vez que ao lermos conseguimos desprendermo-nos da nossa vida real, entrando num mundo de sonho, repleto de imaginação, isto é, um mundo aparte.

A Leitura desenvolve-nos muito como seres humanos e daí a necessidade e a importância de lermos desde a nossa infância. O gosto pela leitura pode ter muito de inato mas também de aprendido. Os pais e outros educadores deverão, por isso, incentivar o gosto pela leitura desde tenra idade. Este será um legado importante para as futuras gerações, já que a leitura nos torna pessoas mais cultas, sensíveis, dinâmicas e perspicazes.




quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SER MULHER EM PAÍSES MUÇULMANOS

Este tema veio-me à memória na sequência de um livro lido este verão, que de alguma forma, me fez pensar de maneira mais refletida sobre a condição das mulheres nos países muçulmanos. Esse livro intitula-se “Mil Sóis Resplandecentes” e constitui uma obra que nos transporta para um mundo impiedoso, complexo, cheio de violência, injustiça, desigualdade e falta de liberdade. Ao mesmo tempo, constitui uma mensagem de coragem e de amor.
Relata-nos a estória de duas mulheres afegãs casadas com o mesmo homem, unidas pela amizade e pela dor proveniente dos abusos que lhes são infligidos, dentro e fora de casa, em nome do machismo e da violência política vigente durante o regime taliban, mas separadas pela idade e pelas aspirações de vida.
Este romance decorre no Afeganistão, em plena revolução política e social, mas a temática da violência e discriminação contra as mulheres é comum na maioria dos países muçulmanos. Este é um tema sobre o qual nos habituamos a ouvir falar um pouco por todo o lado mas que ganha nova dimensão quando lemos obras que o abordam de forma muito real.
Em determinados países e culturas a desigualdade e discriminação relativamente às mulheres continua a persistir. As mulheres continuam a ser vítimas de uma marginalização e de uma violência intoleráveis, com frequência às mãos do seu parceiro ou de familiares próximos.
Atos como violação, maus tratos, escravidão, falta de liberdade, que na nossa cultura são considerados bárbaros e impensáveis, nos dias de hoje, na cultura muçulmana são apenas uma realidade vivida por muitas pessoas e, principalmente e quase na totalidade, por mulheres.
Esta violência é de tal forma exacerbada que, com frequência, leva à morte ou mutilações. Os Direitos Fundamentais são, para estas mulheres, uma miragem e não têm, apesar de todas as leis, códigos éticos e morais, a eles acesso. A própria dignidade, que é intrínseca a qualquer ser humano, é abalada.
Argumentos de carácter cultural não justificam, por si só, toda esta violência dirigida para as mulheres muçulmanas. A condição de mulher nestes países pode e deve ser contestada sem que para isso se tenha de, forçosamente, renegar as origens e religião desses países.
Apesar de toda a intervenção da comunidade internacional ainda temos um longo caminho a percorrer na defesa das mulheres violentadas.
Mulheres Mulçumanas (burca)


Algumas das principais regras que a mulher afegã tem de obedecer durante o regime da milícia islâmica talibã:
·        É absolutamente proibido às mulheres qualquer tipo de trabalho fora de casa.
·        É proibido às mulheres andar nas ruas sem a companhia de um “nmahram” (pai, irmão ou marido).
·        É proibido ser tratada por médicos homens, mesmo que em risco de vida.
 
·        É proibido o estudo em escolas, universidades ou qualquer outra instituição educacional.
·        É obrigatório o uso do véu completo (“burca”) que cobre a mulher dos pés à cabeça.
·       É permitido chicotear, bater ou agredir verbalmente as mulheres que não usarem as roupas adequadas (“burca”) ou que desobedeçam a uma ordem talibã.
·       É proibido qualquer tipo de maquilhagem (foram cortados os dedos a muitas mulheres por pintarem as unhas).
·        É proibido falar ou apertar as mãos de estranhos.
·        É proibido à mulher rir alto (nenhum estranho pode ouvir a voz da mulher).
·        É proibido o uso de roupas que sejam coloridas.
·        As mulheres são proibidas de aparecer nas varandas das suas casas.
·        As mulheres são proibidas de usar as casas-de-banho públicas.

Exemplos de obras inseridos neste tema:

       Desfigurada – Rania al-Baz
       Infiel - Ayaan Hirsi Ali
       O Rosto Atrás do Véu - Donna Gehrke - White
      Vendidas - Zana Muhsen




Curiosidade: Prémio Nobel da Paz de 2011 é dividido entre três mulheres


Três mulheres - a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a também liberiana Leymah Gbowee e a ativista iemenita Tawakkul Karman - foram galadoardas com o Prêmio Nobel da Paz de 2011. O anúncio foi feito dia 7 de outubro em Oslo, Noruega.
O comité do Nobel justificou o prémio como reconhecimento de "lutas não violentas pela segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres de participar no trabalho de construção da paz".
Vencedoras do Prémio Nobel da Paz 2011







sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Heterónimos – Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis

Os heterónimos constituem várias pessoas que habitam um único poeta. Cada um deles tem a sua própria biografia, uma temática poética singular e um estilo específico.

O processo de heteronímia por Fernando Pessoa foi iniciado a 8 de março de 1914, dia considerado pelo poeta como “triunfal” ( nascimento de Alberto Caeiro , consciência da existência de Ricardo Reis e aparecimento violento de Álvaro de Campos). Um caos interior parecia fragmentar a sua personalidade e, em seguida, multiplica-la. Pessoa tinha consciência disso e reconhece a pluralidade dos “eus” que o habitam. Nas cartas a Adolfo Casais Monteiro, define-se como dramaturgo , cujas diversas personalidades dialogam entre sí, explicando assim o surgimento dos heterónimos.



Alberto Caeiro: “Nasceu” de uma partida que Pessoa queria fazer a Sá-Carneiro (inventar um poeta bucólico e apresentar-lho em qualquer espécie de realidade). Não conseguindo elaborar nenhum poema, Fernando Pessoa decide desistir. Nesse mesmo dia escreve poemas a fio, abrindo com o título O Guardador de Rebanhos. Nesse momento apareceu o Mestre.

·      Nasce em Lisboa, em 1889, e morre de tuberculose, em 1915, vivendo a maior parte da sua vida no campo.

·     Apresenta estatura média, aspeto frágil, é louro sem cor, de cara rapada e olhos azuis.

·     Não tem profissão, apenas detém instrução primária.

·     Fica órfão de pai e mãe muito jovem e vive com uma tia avó, de  pequenos rendimentos.



Álvaro de Campos: "Nasceu" como um discípulo de Alberto Caeiro.

·     Nasce em Tavira, a 15 de outubro de 1890, à 13:30 da tarde.

·     Branco e moreno, de cara rapada e cabelo liso com risca ao lado.

·     Usa monóculo fazendo lembrar um judeu português.

·     É alto (1,75 m), magro e um  pouco curvado.

·     Forma-se em Engenheira Naval, em Glasgow, porém  vive em Lisboa em inatividade.


Ricardo Reis: É conhecido como o mais clássico dos heterónimos pessoanos.

·    Nasce em 1887, no Porto.

·    É educado num colégio de jesuítas, recebendo uma educação latinista e tornando-se por autodidatismo, um amante da cultura helénica.

·    É mais baixo, mais forte e mais seco que Alberto Caeiro.

·    Tem a cara rapada.

·    Forma-se em Medicina e exila-se voluntariamente no Brasil, a partir de 1919, por ser monárquico.  

5 de Outubro - Implantação da República

A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de um golpe de estado organizado pelo Partido Republicano Português que, no dia 5 de Outubro de 1910, destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal.

A subjugação do país aos interesses coloniais britânicos, os gastos da família real, o poder da igreja, a instabilidade política e social, o sistema de alternância de dois partidos no poder (os progressistas e os regeneradores), a ditadura de João Franco, a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à modernidade — tudo contribuiu para um inabalável processo de erosão da monarquia portuguesa do qual os defensores da república, particularmente o Partido Republicano, souberam tirar o melhor proveito. Por contraponto, o partido republicano apresentava-se como o único que tinha um programa capaz de devolver ao país o prestígio perdido e colocar Portugal no caminho do progresso.

Após a relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos entre 3 e 4 de outubro de 1910, a República foi proclamada às 9 horas da manhã do dia seguinte da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa. Após a revolução, um governo provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início à Primeira República. Entre outras mudanças, com a implantação da república, foram substituídos os símbolos nacionais: o hino nacional e a bandeira.


Ilustração alusiva à Proclamação da República Portuguesa a 5 de outubro de 1910

Modernismo

               Entre a década de 80 do século XIX e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), surge o Modernismo, a traduzir a inquietude de uma época em crise e de grande agitação social. Entende-se por Modernismo o movimento estético em que a literatura surge associada às artes plásticas sendo por elas influenciada que abrange diversos ismos: futurismo, cubismo, impressionismo, dadaísmo, expressionismo, intersecionismo, paulismo, sensacionismo…

                O Modernismo é encarado como um movimento estético que agregou á sua volta três figuras tutelares: Fernando Pessoa, Sá-Carneiro e Almada Negreiros, as quais constituíram as peças-chave na determinação dos seus contornos.

                Os principais orgãos  de difusão do Modernismo foram A Águia, Renascença e Orpheu. Porém, o ponto alto de inicio desse movimento deu-se  em 1915, com a publicação da revista Orpheu. Contudo, apenas saíram dois números, sendo o seu objetivo irritar o burguês da época e escandalizar.
Orpheu







Fernando Pessoa Ortónimo

Vivendo sobretudo pela inteligência e imaginação, o discurso poético pessoano afirma-se a partir da aprendizagem de não sentir senão literariamente as “cousas”, ou seja, em fingir sentimentos, até mesmo os que verdadeiramente vivenciamos.
              No momento de produção literária/poética, o poeta finge sentimentos, emoções, não deixando, no entanto, de haver verdade, só que essa verdade, essa sinceridade é artisticamente trabalhada.



Linhas temáticas:
A poesia de Fernando Pessoa ortónimo gira em torno do binómio sentir/pensar que desencadeia a dialética consciência/inconsciência.



A dor de pensar: Consciente de que o pensamento/ o intelectual traz dor, o poeta procura a inconsciência dos sentidos, desejando ser como os seres simples (“Ela canta, pobre ceifeira”) ou os animais que se reagem pelos instintos(“Gato que brincas na rua”).



A nostalgia de infância: A infância longínqua, quando foi pré-consciente, é outro dos seus anseios e fugas para ser feliz. Infância é sinonimo de inconsciência, segurança, pureza e felicidade. Nesta temática estão inseridos os poemas Não sei, ama, onde era, Pobre velha música! ;O Menino da Sua Mãe e Tomámos a Vila Depois de um Intenso Bombardeamento).



A fragmentação do eu: o poeta sente-se constantemente dividido entre ele e a vida, entre o real e o ideal, entre a consciência e a inconsciência, entre o ser e o não-ser. Sente-se múltiplo com vontade de se desagregar, ser outro, dividir-se.



O tédio e o cansaço de viver: A incapacidade de permanecer no mundo dos sentidos e a impossibilidade de alcançar os seus sonhos e o seu ideal, traz-lhe o tédio, o sofrimento. Sente que a vida é um projeto falhado que lhe traz a desilusão.



O fingimento: “O poeta é um fingidor”. Para o poeta tudo é intelecto, tudo é pensado, a emoção nunca é pura. A própria poesia é sempre o resultado de uma trajetória intelectual e nunca a passagem direta da emoção para o texto. O fingimento é a raiz da criação artística. Nesta temática estão podemos encontrar os poemas Autopsicobiografia e Isto.

Fernando Pessoa - Biografia

Fernando António Nogueira Pessoa (Fernando Pessoa) nasceu em Lisboa, a 13 de junho de 1888 e foi um poeta e escritor português, sendo considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da Literatura Universal, muitas vezes comparado com Luís de Camões.
Após a morte do pai, vítima de tuberculose, a família foi obrigada a leiloar parte dos seus bens e depois do segundo casamento da mãe, Fernando Pessoa partiu com a mãe e um tio-avô para a África do Sul (Durban).
Em 1894 criou o seu primeiro heterónimo, Chevalier de Pas. Frequentou várias escolas, recebendo uma educação tradicional inglesa, passando por um colégio de freiras irlandesas da West Street, e pela Durban High School, onde criou o heterónimo Alexander Search (1899).
Em 1904 terminou os estudos na África do Sul. Regressou a Portugal em 1905 e fixou-se em Lisboa, onde se matriculou no Curso Superior de Letras. Foi a partir desta data que começou a sua intensa atividade literária.
Em 1912, Pessoa estreou-se como crítico literário, provocando polémicas junto à intelectualidade portuguesa. Em 1914, devido à sua capacidade de "outrar se", criou mais heterónimos (Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, etc.),
Simpatizante da Renascença Portuguesa, no início, afastou-se depois, e em 1915 com Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros entre outros, esforçou se por renovar a literatura portuguesa através da criação da revista Orpheu, veículo de novas ideias e novas estéticas.
Em 1934, concorreu com Mensagem a um prémio da Secretaria de Propaganda Nacional, que conquistou na categoria B, devido à reduzida extensão do livro.
Pessoa acaba por ser internado no dia 29 de novembro de 1935, com diagnóstico de “cólica hepática”. Morreu no dia 30 de novembro, com 47 anos de idade. A sua última frase foi escrita na cama do hospital, em inglês: “I know not what tomorrow will bring” (“Não sei o que o amanhã trará”)
 Fernando Pessoa não é apenas o autor de uma obra múltipla e plurifacetada, mas, principalmente, o criador de uma “pequena humanidade”, constituída por figuras “exatamente humanas” com personalidade própria.

Fernando Pessoa


Fernando Pessoa - Infância