terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O herói em Os Lusíadas


Camões dá-nos conta de dois tipos de herói: o nato, a quem nada é exigido para ascender ao estatuto da imortalidade, pois assim nasce, herdando os títulos que o libertarão da lei da morte; o adquirido, mais concretamente aquele que tem de vencer os perigos e os contratempos para se elevar ao plano do semideus. Este é para o poeta o verdadeiro herói, o ser excelente e excecional que alcança a sublimação. É o povo português que, na Ilha dos Amores, é conduzido pela mão dos deuses e levado por caminhos jamais pisados por humanos, símbolo da glória e da eternidade. O Homem, “bicho da terra” tão pequeno, conseguiu assim vencer o mar que o transcendia, graças à sua ousadia e capacidade de sacrifício, superando-se e indo “ mais alto e mais longe”

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Reflexões do Poeta

Em Os Lusíadas, o plano das reflexões do poeta é extramente importante, uma vez que é nele que estão expressos os conselhos e as críticas do sujeito poético dirigidas aos Portugueses. Nessas reflexões, há louvores e queixas, pois por um lado, realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio e, por outro, lamenta que muitos se arrastem pelo poder corrupto do dinheiro, pela cobiça, ambição e tirania, honras vão que não dão verdadeiro valor ao homem; faz a apologia das letras e da cultura; exorta D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português; confessa estar cansado de não se sentir reconhecido artisticamente e tece considerações sobre a fragilidade da condição humana, alertando para os perigos que a todo o momento espreitam e que o homem tem de enfrentar.




Canto I

O poeta reflete sobre a condição humana e a fragilidade da vida rodeada de tantos perigos quer no mar quer em terra, interrogando-se sobre a possibilidade do homem (“bicho da terra tao pequeno”) encontrar um porto de abrigo seguro sem que a ira divina atente sobre si.

Canto V

O poeta destaca a importância das letras e lamenta que os Portugueses nem sempre saibam aliar a força e a coragem à eloquência.

Ao comparar os nossos heróis com os da Antiguidade, lamenta que os fortes capitães e os grandes guerreiros, assim como os marinheiros portugueses apenas o sejam pela força, pois são rudes e incultos, enquanto os heróis das antigas epopeias eram “doutos e cientes”. (“Nua mão a pena e noutra a lança”)

O poeta sente vergonha pelo facto de a nação portuguesa não ter capitães letrados, pois quem não sabe o que é a arte, também não a pode apreciar.

Se a nação portuguesa continuar no costume da ignorância, não teremos nem homens ilustres nem corajosos.

Canto VI

O poeta realça o valor das honras e da glória alcançadas por mérito próprio.

O poeta valoriza o herói que conquista esse estatuto pelo seu esforço e luta para alcançar as famas e a honra.

O homem pode triunfar da “Fortuna”, desprezando as soluções e assim torna-se capaz de com “o seu forçoso braço”, buscar as honras que chame suas, vencendo as adversidades, impondo a sua vontade, autodominando-se e tornando-se o sujeito da própria vida.

Canto VII

Esta reflexão do poeta pretende se uma intervenção pedagógica. O poeta canta, louva os Portugueses, mas também os censura. Acusa-os de ignorância e de desprezo pela cultura, alerta-os para os perigos de decadência resultantes do menosprezo da cultura. Preocupado com os índices de ignorância, denuncia os abusos dos poderosos e as injustiças que atingem o povo. O poeta, errante, incompreendido, de vida desgraçada e azarenta, já não lamenta a injustiça sofrida, mas a indiferença e a insensibilidade daqueles que o desprezam e não dao valor ao dom que lhe é feito.

O poeta critica a oposição entre a política  e a cultura e denuncia o divorcio existente entre “senhores” e “escritores”, profetizando a decadência da pátria.

O poeta faz a apologia do povo português e da sua expansão territorial para divulgar a fé Cristã.

Critica os povos que não seguem o exemplo do povo português que, com atrevimento, chegou a todos os cantos do mundo e “se mais mundos houvera, lá chegara”.

Apesar de os portugueses ocuparem um pequeno território, são grande em coragem e em ousadia, para lutar pela fé cristã, contrariamente aos restantes povos europeus.

Canto VIII

O poeta critica o poder do dinheiro, o materialismo e a cobiça em que o povo está mergulhado e alerta que, deste modo, as honras alcançadas não são verdadeiras. O dinheiro é fonte de corrupções e de traições, desonestidades, crueldades…

Canto IX

O poeta dirige-se a todos os que pretendem atingir a imortalidade, dizendo-lhes que a cobiça, a ambição e a tirania são honras vãs que não dão verdadeiro valor ao homem.

Lembra que, na Antiguidade, os prémios concedidos eram atribuídos a quem fazia o difícil caminho da virtude.

Exortar os portugueses, para que despertem do “ócio” e persigam o seu objetivo com dignidade (A Fama).

Canto X

O poeta confessa estra cansado de “cantar gente surda e endurecida”, que não reconhece nem incentiva as suas qualidades artísticas e não conseguem nem têm a capacidade para apreciar o canto épico.

A pátria vive mergulhada numa tristeza austera, apagada e vil.

Finalmente manifesta o seu patriotismo e exorta o Rei D. Sebastião a dar continuidade à obra grandiosa do povo português.