quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mitificação do herói em Os Lusíadas e Mensagem


Fernando Pessoa (Mensagem) Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas)
 Separados por 4 séculos Os Lusíadas e Mensagem apresentam diferenças nítidas no que concerne à problemática da mitificação do herói.
Assim, na obra Os Lusíadas, o herói da epopeia caracteriza-se pelos feitos grandiosos, nunca antes realizados por humanos, pela ascensão dos homens à condição de Imortalidade devido a esses feitos, pela a ascensão dos homens à condição divina, como é visível na Ilha dos Amores e pela superação dos heróis das epopeias antigas. Na verdade, o heroi da epopeia vai-se progressivamente construindo à medida que a viagem avança, não só porque vai vencendo, graças à sua coragem e ousadia, todos os obstáculos e perigos (Adamastor), mas também porque suplanta as forças da Natureza, vence os deuses e ainda porque vai detendo um novo saber, adquirido através das suas vivencias e experiencias e que, por esse motivo, engrandece o espírito humano (Fogo de Santelmo Tromba Marítima). Contudo, é na Ilha dos Amores que se assiste à realização daquilo que constituí a essência da epopeia: o poeta torna imortais os feitos dos portugueses, elevando-os à categoria de deuses, para sempre eternos na memória dos homens. Pode então dizer-se que Os Lusíadas apresentam um homem que “é a medida de todas as coisas”, numa visão antropocentrista do mundo em detrimento da visão Teocêntrica em que a razão se sobrepõe ao dogma. É a apologia do saber, da experiência e da crença nas capacidades do Homem, em perfeita consonância com o espírito renascentista, onde o herói se eleva à medida do seu esforço.
Em Mensagem, as figuras históricas da epopeia camoniana surgem como personagens míticas que funcionam como modelos. O herói da Mensagem projeta-se para além do momento histórico em que a ação teve lugar, sendo a sua dimensão simbólica e mítica que importa, enquanto marco na história da Humanidade. Este herói é predestinado, escolhido, sacralizado e situa-se no domínio do Sonho, procurando contudo a superação dos limites que caracterizam a própria condição humana. (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”)
Em síntese, pode dizer-se que o herói de Mensagem surge da necessidade de combater a estagnação que caracteriza o Portugal do século XXI, um Portugal sem glória que tem de renascer e regenerar-se. Essa constatação leva o poeta a fazer um apelo aos seus compatriotas, no sentido de iniciarem a sua ação na construção de um novo tempo, a era do quinto Império com o seu Messias Salvador.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Mensagem

O livro Mensagem é uma obra épico-lírico, constituída por 44 composições que se agrupam em três partes distintas. Tem, pois, uma estrutura tripartida, estrutura essa que assenta em razões de ordem racional e espiritual. É uma coletânea que reúne poemas de caracter nacionalista e sebastianista, a única publicada em vida do seu autor, Fernando Pessoa, em 1934.

Fernando Pessoa revestiu a sua obra de uma carga simbólica e mítica que é anunciada desde logo, quando no livro e por baixo do título Mensagem, aparece a inscrição latina “Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum” (Bendito seja Deus Nosso Senhor, que nos deu o sinal), acompanhando ,igualmente, cada um das três partes que compõem a obra, novamente, de uma inscrição latina. Brasão é seguido de “Bellum sine bello.” (Guerra sem guerra.); Mar Português- “Possessio mari.”(Domínio do mar) e O Encoberto- “Pax in excelsis” (Paz nas alturas), terminando a obra com a epígrafe “Valete, Fratres” (Saúde, Irmãos), expressão utilizada na despedida entre membros de sociedades secretas e que, simbolicamente, traduz o otimismo pessoano no futuro.

Então, vamos ter em Brasão (19 poemas) os heróis fundadores da nacionalidade, portuguese que, por inspiração divina, realizaram os seus atos gloriosos. E foi esta predeterminação divina que conduziu a nação portuguesa e o seu povo à glória e ao seu reconhecimento.

Em Mar Português (12 poemas), o poeta evoca a expansão marítima, isto é, a conquista e o domínio dos mares pelos navegadores que, com sofrimento e sacrifício, deram uma maior dimensão à Pátria.

Em O Encoberto (13 poemas), sente-se a decadência e morte da nação, outrora esplendorosa. Mas antevê-se uma ressurreição na criação de um novo império.

Mensagem é, simultaneamente, uma obra que retrata a decadência de Portugal, visível na crise de valores e de identidade que Pessoa enumera no poema Nevoeiro, mas é também um texto de esperança que expressa a fé num novo ciclo, o desejo de recuperar energias, canalizando-as para o recomeço. O livro termina com uma apelo à mudança. “ É a Hora!” é o verso final do último poema da obra, funcionando, deste modo, como um grito de exortação, de incentivo aos portugueses, mostrando que é chegado o momento certo para fazer ressurgir a grandeza de Portugal.

Mensagem estrutura-se em torno de três conceitos fundamentais:

Herói – aquele que interpreta a vontade divina, atuando para dar cumprimento a uma vontade que lhe é superior, transformando-se em mito. É o predestinado, o escolhido, aquele a quem Deus dá gládio urgida para cumprir uma missão, (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”).

Sebastianismo - Assim se compreende o desejo do regresso mítico do rei que corporiza um passado glorioso, a redenção nacional:” Onde quer que, entre sombras e dizeres;/ jazas remoto, Sente-te sonhado, / E ergue-te do fundo de não seres/ Para o teu novo Fado!”
Quinto Império - profetizado na Mensagem está imbuído de um espírito de fraternidade, representa uma espécie de paraíso perdido que permitiria o renascer do homem no futuro. Este conceito liga-se ao Sebastianismo.