Ricardo Reis manifesta-se como um ser que procura o equilíbrio, que só a força moderadora da razão lhe pode proporcionar.
Com efeito, Reis é um epicurista triste e ressentido que se sente atormentado com a fugacidade do tempo, a efemeridade da vida, a inevitabilidade da morte, a dureza do Fado e o desprezo dos Deuses, considerando que estes aspetos jamais deixam o ser humano ser feliz, pois aprisionam-lhe a liberdade. Partindo desta ideia, Reis recusa viver a sua vida, enclausurado no passado ou concentrado num futuro incerto que poderá não chegar, mas sim procurando a realização no presente e no instante vivido dia a dia, segundo as ideias do Carpe Diem. Assim, procura alcançar a serenidade espiritual e a ataraxia (ausência de dor e sofrimento), construindo uma filosofia de vida estoico-epicurista, na busca do equilíbrio entre o pensar (estoicismo) e o sentir (epicurismo), para assim alcançar uma felicidade relativa que não lhe comprometa a liberdade interior e o moderado gozo dos prazeres.
É, assim, uma arte de viver, pois ao conciliar as duas filosofias de vida, vive essa vida aceitando passiva e voluntariamente as leis do destino, inacessíveis à consciência do ortónimo.
Linhas de sentido:
· Discípulo de Caeiro, como o mestre aconselha a aceitação calma da ordem das coisas e faz elogio da vida campestre, indiferente ao social;
· Faz dos Gregos o modelo da sabedoria (aceitação do fatalismo do Destino de forma resignada, mas digna e altiva) e do poeta latino Horácio o modelo poético;
· Reflete sobre fluir do tempo; tem consciência da dor provocada pela natureza precária do homem;
· Faz elogio do epicurismo: a sabedoria consiste em gozar o presente (Carpe Diem);
· Faz elogio do estoicismo: a sabedoria consiste na aceitação da condição humana, através da disciplina e da razão;
· Paganismo assumido.
Estilo
· Estilo neoclássico;
· Presença frequente de elementos mitológicos;
· Uso preferencial do decassílabo combinado com o hexassílabo; verso branco;
· Linguagem curta, rebuscada, sentenciosa;
· Frequente utilização do hipérbato e de latinismos;
· Recurso ao conjuntivo com valor exortativo.