Fernando
Pessoa – Ortónimo e Heterónimos
O
principal traço da poesia do ortónimo é o binómio sentir/pensar que conduz à
dialética consciência/inconsciência. Ansioso por permanecer no mundo dos
sentidos Pessoa debate-se com a força do intelecto que não lhe permite alcançar
a felicidade alegre da inconsciência. Assim, sente a dor de pensar e deseja ser
a ceifeira anónima, inconsciente e feliz, inveja a sorte do gato que rege a
vida pelos seus instintos, e tenta recuperar os tempos de infância, o paraíso perdido
e longínquo em que onde foi feliz. Contudo trata-se apenas de fugas de si mesmo
e o que permanece é a desagregação do tempo, o desencanto e angústia da
efemeridade da vida.
O fenómenos
da heteronímia consiste na despersonalização do “Eu” e na fuga á
individualização do Ortónimo que, sentindo-se fragmentado entre o sentir e o pensar,
se desdobra na criação de seres fictícios. Trata-se pois na conceção imaginária
de figuras exatamente humanas que eram gente, que se movimentavam num palco onde
desfilam, pelo menos, quatro personagens diferentes: Alberto Caeiro, Ricardo
Reis, Álvaro de Campos e Pessoa Ortónimo.
Lusíadas
Os Lusíadas (século XVI) constituem uma das obras que melhor exprimem a glória do povo descobridor que, graças ao seu espírito aventureiro deu novos mundos ao mundo e unificou a Terra, complementando os seus objetivos religiosos de acordo com o ideal de cruzada. Expandir a Fé e o Império é o grande objetivo que sempre norteou o Homem português, que Camões glorifica na sua epopeia em dez cantos de oitavas, com versos decassilábicos, num estilo grandioso e eloquente, onde a mitologia constitui um dos planos ao lado da História de Portugal, da viagem á Índia e das intervenções do Poeta. Camões canta a glória portuguesa do Império já conquistado, mas dirige-se a D. Sebastião a quem dedica a sua obra num tom de lamento, e nas suas reflexões lança uma crítica aos poderosos, à política e ao desprezo pela cultura.
Fernando
Pessoa em Mensagem, contempla a sua
pátria decadente e moribunda do presente e mitifica o passado glorioso
português tendo como símbolos Ulisses e D. Sebastião, e evocando várias figuras
heroicas na terra e no mar, para que as suas vozes e os seus feitos se elevem e
venham despertar do sono e da inércia os portugueses do século XX, reacendam
chama da fé e da esperança e partam à conquista do Futuro. Numa obra
constituída por 44poemas de estrofes, métrica e rima variadas, numa linguagem
densa, cuidada e por vezes abstrata e num discurso épico, lírico e simbólico. Pessoa
recompõe a história de Portugal dividindo o texto em três partes (“Brasão”, “Mar
Português” e “O Encoberto”).
Felizmente
Há Luar!
Felizmente Há Luar!, texto emblemático do teatro português dos
anos 60, desenvolve um conjunto de temas (opressão, luta pela liberdade, amor)
que constituiu um todo indissociável.
É um drama
narrativo, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico ou
brechtiano. O teatro épico tem como objetivo levar o espetador a pensar e
refletir sobre o que se passa em cena. Por isso, Sttau
Monteiro em Felizmente Há Luar! visa
denunciar, não só as crueldades cometidas durante o regime absolutista, mas
também despertar os leitores/espectadores para as crueldades e injustiças que
se cometiam em Portugal durante o período do fascismo. O século XIX
funciona assim como uma janela aberta para o século XX, num tempo em que a
censura proibia tudo o que fosse contra o poder instituído.
Concluindo,
poder-se – á afirmar que Felizmente Há Luar! se constitui como uma espécie de
hino a todos os residentes e a todos aqueles que lutaram pelo fim da opressão e
pela restituição da liberdade do povo português.
Memorial do Convento
Memorial do Convento é um romance que, partindo de um facto histórico
– a construção do Convento de Mafra, não se limita apenas ao relato objetivo
dos factos mas ficciona-os através da atuação de personagens que fogem à logica
da História.
Na
verdade, e embora o narrador relate, de forma cuidadosa, pormenores históricos,
reais, que envolveram a construção do convento, a história de Baltasar e
Blimunda e o projeto de construção da passarola do padre Bartolomeu de Gusmão
vão para além da História, entrando no domínio da ficção e mesmo na esfera do
maravilhoso.
Esta
coexistência, entre a Historia e a ficção é uma forma de o narrador/autor
mostrar que os verdadeiros heróis da história não são, na maioria das vezes, as
personagens oficiais, mas sim o povo anónimo e sofrido.
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