terça-feira, 17 de abril de 2012

Mensagem

O livro Mensagem é uma obra épico-lírico, constituída por 44 composições que se agrupam em três partes distintas. Tem, pois, uma estrutura tripartida, estrutura essa que assenta em razões de ordem racional e espiritual. É uma coletânea que reúne poemas de caracter nacionalista e sebastianista, a única publicada em vida do seu autor, Fernando Pessoa, em 1934.

Fernando Pessoa revestiu a sua obra de uma carga simbólica e mítica que é anunciada desde logo, quando no livro e por baixo do título Mensagem, aparece a inscrição latina “Benedictus Dominus Deus noster qui dedit nobis signum” (Bendito seja Deus Nosso Senhor, que nos deu o sinal), acompanhando ,igualmente, cada um das três partes que compõem a obra, novamente, de uma inscrição latina. Brasão é seguido de “Bellum sine bello.” (Guerra sem guerra.); Mar Português- “Possessio mari.”(Domínio do mar) e O Encoberto- “Pax in excelsis” (Paz nas alturas), terminando a obra com a epígrafe “Valete, Fratres” (Saúde, Irmãos), expressão utilizada na despedida entre membros de sociedades secretas e que, simbolicamente, traduz o otimismo pessoano no futuro.

Então, vamos ter em Brasão (19 poemas) os heróis fundadores da nacionalidade, portuguese que, por inspiração divina, realizaram os seus atos gloriosos. E foi esta predeterminação divina que conduziu a nação portuguesa e o seu povo à glória e ao seu reconhecimento.

Em Mar Português (12 poemas), o poeta evoca a expansão marítima, isto é, a conquista e o domínio dos mares pelos navegadores que, com sofrimento e sacrifício, deram uma maior dimensão à Pátria.

Em O Encoberto (13 poemas), sente-se a decadência e morte da nação, outrora esplendorosa. Mas antevê-se uma ressurreição na criação de um novo império.

Mensagem é, simultaneamente, uma obra que retrata a decadência de Portugal, visível na crise de valores e de identidade que Pessoa enumera no poema Nevoeiro, mas é também um texto de esperança que expressa a fé num novo ciclo, o desejo de recuperar energias, canalizando-as para o recomeço. O livro termina com uma apelo à mudança. “ É a Hora!” é o verso final do último poema da obra, funcionando, deste modo, como um grito de exortação, de incentivo aos portugueses, mostrando que é chegado o momento certo para fazer ressurgir a grandeza de Portugal.

Mensagem estrutura-se em torno de três conceitos fundamentais:

Herói – aquele que interpreta a vontade divina, atuando para dar cumprimento a uma vontade que lhe é superior, transformando-se em mito. É o predestinado, o escolhido, aquele a quem Deus dá gládio urgida para cumprir uma missão, (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”).

Sebastianismo - Assim se compreende o desejo do regresso mítico do rei que corporiza um passado glorioso, a redenção nacional:” Onde quer que, entre sombras e dizeres;/ jazas remoto, Sente-te sonhado, / E ergue-te do fundo de não seres/ Para o teu novo Fado!”
Quinto Império - profetizado na Mensagem está imbuído de um espírito de fraternidade, representa uma espécie de paraíso perdido que permitiria o renascer do homem no futuro. Este conceito liga-se ao Sebastianismo.

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